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Evangelhos Apócrifos - Apocalipse de Baruch

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Evangelhos Apócrifos

 

Apocalipse de Baruch

 

 

 

 

 

Capítulo 1

ANÚNCIO DA Ruína de Jerusalém Ao vigésimo quinto ano do rei de Judá, Jeconias, foi anunciada a palavra de Deus a Baruch, filho de Nérias. Ela assim rezava:

"Tu presenciaste tudo o que esse povo cometeu contra mim; os pecados das duas tribos, que ainda sobraram, são mais numerosos do que os das dez que já se foram para o cativeiro. As tribos anteriores foram coagidas por seus reis ao pecado; porém, estas duas forçaram os seus reis nos caminhos do mal.

"Por isso, eu determinei a desgraça para esta cidade e os seus cidadãos; por algum tempo, ela deverá ser repudiada por mim, e eu dispersarei este povo entre os pagãos. Os pagãos hão de viver em prosperidade, mas o meu povo deverá ser castigado. Virá então o tempo em que eles ansiarão pelas suas épocas de paz.

Capítulo 2

Ordem de Abandonar a Cidade

"Digo-te o quanto segue, e transmite-o a Jeremias e a todos os vossos pares: Abandonai estacidade, pois o vosso comporta-mento a bem dela é como uma coluna firme e vossas orações são como uma muralha forte!"

Capítulo 3

Queixa de Baruch

Eu disse: "Senhor, meu Senhor! Teria eu vindo ao mundo para presenciar a desgraça da minha Mãe? Ah, não meu Senhor! Se por acaso encontro eu graça aos teus olhos, retira o meu espírito, para que eu possa ir junto aos meus Pais, e não seja obrigado a assistir à destruição da Mãe! Pois duas coisas me acabrunham profunda-mente: por um lado, não posso contrariar a tua vontade, por outro, não posso suportar a vi-são da ruína da minha Mãe.

"Uma coisa porém, Senhor, eu digo na tua presença: Que irá acontecer depois? Porque, se Tu deixas a tua cidade cair na desgraça e entregas tua herança aos inimigos que nos odeiam, como poderá ainda ser lembrado o nome de Israel?

"A quem poderá ser anunciada a mensagem de tua Lei? Deverá a constituição do mundo voltar ao seu início? Deverá o mundo de novo recair no silêncio primitivo? Deverá a massa dos viventes ser mais uma vez extirpada? Não se falará mais da natureza humana?

"Onde fica tudo aquilo que a nosso respeito disseste a Moisés?"

Capítulo 4

A Nova Jerusalém

Falou-me então o Senhor: "Sim, esta cidade será abandonada por algum tempo, e temporariamente será castigado o seu povo; contudo, o mundo não terminará. Pensas tu por acaso que é esta a cidade da qual eu falei: `Trago-te inscrita nas minhas mãos'?, não, esta vossa cidade, com as suas edificações, não é a cidade futura que eu anunciei, já anteriormente preparada, desde o tempo em que decidi criar o Paraíso. Eu mostrei-a a Adão antes da queda em pecado; ela foi-lhe tirada juntamente com o Paraíso, depois que ele se rebelou contra a proibição.

"Mostrei-a também ao meu servo Abraão, naquela noite, entre as oferendas partidas ao meio. Mostrei-a a Moisés sobre o              monte Sinai, onde lhe expliquei a imagem do tabernáculo e de todos os seus utensílios. Assim, ela continuará preparada na minha mente, juntamente com o Paraíso. Vai, pois, e faz o que eu te ordeno !"

Capítulo 5

Deus Mesmo Destrói Sião Eu disse: "Dessa forma, também eu serei culpado com respeito a Sião, por permitir que aqueles que Te odeiam pisem esta terra, que conspurquem teu Templo, que arrastem tua herança ao cativeiro, que saqueiem tudo o que Te é caro, e voltem para os domínios dos seus ídolos e lá, diante deles se vangloriem: 'Que foi que eu cometi contra o teu santo Nome'?"

Falou-me então o Senhor: "O meu Nome permanece, e permanece a minha glória por toda a eternidade; todavia, o meu Julgamento guarda a sua Justiça para o tempo devido. Deves ver com os teus olhos que não são exatamente os inimigos que destroem Sião e que incendeiam Jerusalém; eles são apenas o instrumento temporário do Juiz. Avia-te agora! Cumpre tudo o que eu te ordenei!"

Assim, eu parti; levei comigo Jeremias, Iddo e Seraja, Jabes e Gedalja, bem como todas as pessoas honradas do povo, e conduzi-os à torrente do Cedron. Disse a eles tudo quanto me fora anunciado. Todos eles choraram em alta voz. Lá nos assentamos e permanecemos em jejum até o anoitecer.

Capítulo 6

Os Anjos Põem Fogo à Cidade Santa

No dia seguinte, as tropas dos cal deus sitiavam a Cidade. Então, ao cair da tarde, eu abandonei o povo, afastei-me e aproximei-me do carvalho. Eu estava muito aflito por amor a Sião e suspirava por causa do cativeiro em que o povo era lançado. Nesse instante, um vento forte elevou-me no ar e transportou-me sobre os muros de Jerusalém. E eu vi: quatro Anjos estavam sobre os quatro cantos da nossa cidade, tendo cada um uma tocha de fogo nas mãos.

Do céu apareceu outro Anjo e falou a eles: "Empunhai as vossas tachas! Mas não ateeis o fogo antes que eu vos ordene! Fui enviado para anunciar à Terra, e deixar registrado com antecedência, aquilo de que o Senhor altíssimo me incumbiu".

Eu vi então como ele desceu sobre o Santíssimo e lá recolheu o véu, o sagrado manto umeral, o propiciatório, as duas tábuas, as vestes sagradas dos sacerdotes, o altar dos incensos e quarenta e oito pedras preciosas que o sacerdote portava e todos os vasos sagrados do tabernáculo.

Com voz potente, ele dirigiu-se à Terra: "Terra! Terra! Terra! Escuta agora a palavra do Deus Todo-Poderoso! Recebe estas coisas que à tua guarda confio! Conserva-as contigo até os tempos novíssimos e restitui-as quando te for ordenado, para que elas não sejam roubadas pelos estranhos! Chegado é o tempo em que Jerusalém será abandonada, por um prazo, até que seja determinada a sua reconstituição, e aí será para sempre".

Então a Terra abriu a sua boca e engoliu-as.

Capítulo 7

A Invasão dos Caldeus

Os anjos executaram suas ordens conforme ele mandou. Enquanto eles punham abaixo os ângulos das muralhas, ouviu-se, após a queda dos muros, mais uma voz, procedente dos véus do Templo. Ela exclamou: "O inimigos, irrompei! Vós, odientos, vinde adentro! Pois Aquele que guardava a casa abandonou-a".

Então eu, Baruch, parti. E a horda dos caldeus iniciou a invasão. Ocuparam o Santuário e tudo o que havia nos seus arredores. Depois levaram o povo feito prisioneiro e mataram muitos; também o rei Sedecias foi enviado, acorrentado, ao rei da Babilônia.

Capítulo 8

O Luto de Baruch

Então eu, Baruch, voltei para junto de Jeremias, cujo coração foi achado isento de pecados, e que na queda da cidade não fora aprisionado. E nós rasgamos as nossas vestes, choramos, cobrimo-nos de luto e jejuamos sete dias.

Capítulo 9

Canto de Lamentação de Baruch

Passados sete dias, chegou a mim a palavra de Deus; e falou-me: "Dize a Jeremias que vá junto com o povo à Babilônia, para cuidar dos seus prisioneiros. Tu, porém, permanece aqui junto às ruínas de Sião. Depois destes dias, eu te revelarei o que acontecerá no fim dos tempos".

Transmiti a Jeremias o que o Senhor me ordenara. Assim, ele partiu com o povo; eu porém, Baruch, encaminhei-me até as portas do Templo e ali sentei-me para lamentar a sorte de Sião. Feliz daquele que não chegou a nascer! Feliz daquele que, embora nascido, morreu cedo! Ai de nós, que ora vivemos, que presenciamos a aflição de Sião, o destino de Jerusalém!

Eu invoco as sereias do mar; O vós, Lilin, espectros da noite, vinde do deserto! ó vós, Shedim e vós, dragões das florestas! Vinde! Cingi os vossos lombos para o gemido de dor e entoai comigo os cantos de luto! Gemei comigo! O vós, agricultores! Abandonai as vossas sementeiras! Tu, ó Terra, por que produzes os frutos da colheita? Retém no teu seio os alimentos saborosos! E tu, videira! Por que continuas a produzir o vinho? Dele nada mais será aproveitado por Sião, nem mais serão distribuídas as primícias dos frutos.

Vós, ó céus! Suspendei o vosso orvalho! Fechai as bicas dos reservatórios da chuva! O sol! Apaga a luz dos teus raios! Por que deveria ainda resplender a luz lá onde escureceu a luz de Sião?

Noivos! Afastai-vos do tálamo nupcial! Donzelas! Desfazei as vossas tranças! Vós, mulheres, não supliqueis a graça da maternidade. As estéreis devem antes alegrar-se, e exultem aquelas que não geraram filhos! Cubram-se de tristeza as mães de família. Por que ainda deverão dar à luz com dor? Só para preparar a sepultura com suspiros? Por que motivo os homens ainda deverão ter filhos? Por que ainda falar da geração humana, quando esta Mãe aqui foi completamente destruída, e os seus filhos arrastados ao cativeiro? Doravante não faleis mais da beleza, nem relembreis vaidades.

Vós, sacerdotes! Tomai as chaves do Templo! Arremessai-as ao alto, entregai-as ao Senhor, dizendo: "Guarda Tu a tua casa! Nós fomos considerados guardiões inconfiáveis".

Vós, virgens, que teceis fios de linho e seda, com ouro de Ophir, juntai tudo rapidamente! Lançai tudo isso ao fogo, devolvendo essas coisas Aquele que as produziu! As chamas as enviarão Aquele que as criou! Assim os inimigos nunca mais poderão roubá-las.
    Capítulo 10

A Tristeza Sem Par de Sião

A ti, Babilônia, eu, Baruch, digo o seguinte: Se tu ainda estivesses em vias de alcançar o florescimento, estando Sião em seu pleno esplendor, grande tristeza seria para nós se chagasses a igualar-te a ela.

Mas agora é incomensurável a nossa aflição, uma calamidade sem fim, por vermos que tu estás na glória e Sião jaz desolada. Quem fará justiça sobre tudo isso? A quem deve-remos queixar-nos da nossa desgraça? Senhor! Por que permitiste isso tudo?

Nossos pais deitavam-se tranqüilamente para o sono e os justos repousavam em paz sobre a terra. Pois eles nunca experimentaram tamanha aflição e jamais ouviram falar do que agora nos atingiu.

Ah, Terra, tivesses tu ouvidos! Tu, ó pó, tivesses um coração! Ide e anunciai ao mundo inferior e dizei aos mortos: "Vós sois imensamente mais felizes do que nós que ainda estamos em vida".

Capítulo 11

O Tempo da Ira

Terra, eu falo exatamente o que penso, e a ti eu digo o seguinte, hoje que estás no esplendor: O calor do meio-dia não aquece constantemente e não brilham sem cessar os raios do sol! Não acredites! Não te iludas, como se pudesses gozar o florescimento sem fim! Não te sobreponhas! Não te vanglories! A seu tempo, voltar-se-á também contra ti a ira, que agora, por bondade, é mantida a distância, como por uma cerca.

Depois de ter dito essas palavras, jejuei por sete dias.

Capítulo 12

O Castigo de Deus

Eu, Baruch, fui ao Sião e ouvi uma voz que vinha do alto do céu, dizendo-me: "Baruch, põe-te sobre os teus pés! Escuta as palavras do Deus Todo-Poderoso! Admiras-te do que aconteceu a Sião; por isso tu serás conservado até o final dos tempos, em plena condição de dar testemunho.

"Se as cidades agora tão florescentes perguntarem: 'Por que o Deus Todo-Poderoso fez cair seus castigos sobre nós'?, dizei-lhes então, tu e os teus pares que experimentastes a presente desgraça: `Esta é a desgraça e o castigo que agora sobrevêm a vós e ao vosso povo, no tempo que foi determinado, para que os povos sem exceção sejam punidos, e nessa punição permaneçam'.

"E se nesse momento perguntarem: 'Quanto tempo durará isso?', dizei-lhes: 'Vós que bebestes vinho limpo, bebei-lhe agora também a borra! Pois é eqüitativa a Justiça do Altíssimo. Por isso, no princípio, Ele não poupou nem os seus próprios filhos; castigou-os muito mais, como a seus próprios inimigos, porque pecaram contra Ele. Foram outrora castigados dessa maneira, para que igualmente pudessem ser purificados.

"Agora, porém, nações e povos, sois submetidos ao castigo, pois durante todo o tempo nada mais fizestes do que piso-tear a terra, e vos aproveitastes da Criação de uma forma que não convinha. Eu sempre vos indiquei o bem; vós, porém, sempre o contrariastes'."

Capítulo 13

Reflexões de Baruch

Eis o que eu disse em resposta: "Tu me revelaste o curso dos tempos, bem como aquilo que acontecerá após os dias de hoje. Tu disseste: 'Aos povos sobrevirão os castigos de que falaste'. Agora eu sei que na realidade muitos pecaram, mas assim mesmo viveram em felicidade, e já passaram deste mundo. Só alguns poucos sobraram nestes tempos, para que neles se cumprissem tuas palavras. Onde nisso tudo permanecem os méritos? Haverá ainda algo pior à nossa espera, além daquilo que já nos atingiu?

"E mais ainda tenho eu a dizer na tua presença: Que vantagem tiveram aqueles que diante de Ti viveram em obediência e atenção, e que não se entregaram a frivolidades, como outros povos, e não falavam aos mortos: 'Proporcionai-nos a vida', mas que, muito mais, viveram em temor diante de Ti e não se desviaram dos teus caminhos? Eles agora são arrastados para longe, e nem por causa deles Tu Te compadeces-te de Sião.

"Se outros prevaricaram, Sião deveria ter sido poupada, por causa das suas obras, pois praticou o bem. Não deveriam antes ser arruinados aqueles que viveram em delitos? Meu Senhor e meu Deus! Quem pode entender tua Justiça, ou escrutar a profundidade dos teus desígnios, ou imaginar a fadiga dos teus caminhos? Quem? Quem é que pode compreender tua decisão inconcebível, ou quem dentre os nascidos do pó pode perceber o princípio e o fim da tua Sabedoria? Nós somos como um sopro de vento. Pois como o sopro do vento, que sem causa própria surge e vai, assim é também com os filhos dos homens: não caminham pela sua própria vontade e ignoram qual será o seu destino final.

"De bom grado os justos aguardam o seu fim e deixam esta vida sem temor. Pois eles possuem um penhor de boas obras, guardado na câmara dos teus tesouros. E por isso que eles saem deste mundo sem medo algum e esperam receber, com alegre confiança, aquela morada que foi por Ti prometida firmemente. Mas, ai de nós, que neste momento sofremos a ignomínia e que só a desgraça nos está reservada ao final deste período! Tu sabes muito bem o que acabaste de fazer com os teus servos; o bem que fizeste, este não podemos avaliar como Tu, nosso Criador.

"Mas ainda mais coisas desejo dizer na tua presença, Senhor meu Deus. Ainda não existia o mundo e nem os seus habitantes. Mas Tu deliberas-te, pronunciaste uma Palavra, e imediatamente apareceram diante dos teus olhos as obras da Criação. Então, conforme tua Palavra, quiseste colocar todas as criaturas à disposição do homem no mundo, a fim de que se reconhecesse que o mundo foi criado por amor dele, e não ele para o mundo. Agora, porém, devo constatar que o mundo, que foi criado por amor a nós, permanece, enquanto que nós, para quem ele foi feito, somos eliminados."

Capítulo 14

Resposta às Reflexões

Falou-me então o Senhor: "Tu te admiras, e com razão, de como os homens perecem dessa forma; no entanto, não julgas com acerto a respeito das desgraças que atingem os pecadores, porquanto dizes terem sido os justos arrastados, ficando os prevaricadores em felicidade, e mais, que `ninguém conhece tua Justiça'.

"Por isso, ouve! Eu te explicarei. Presta-me toda a atenção! Faço-te ouvir as minhas palavras. O homem nunca teria conhecido corretamente a minha Lei, caso não a tivesse recebido, e caso eu não o tivesse instruído com toda a diligência. Todavia, por tê-la conscientemente transgredido, conscientemente deverá sofrer a pena. E quanto ao que dizias sobre os justos, que por amor a eles foi criado o mundo presente, digo que por seu amor será também instaurado o mundo futuro.

"E se este mundo é para eles apenas fadiga, trabalho e muito esforço, o mundo futuro será uma coroa cheia de esplendor."

Capítulo 15

Nova Reflexão

Eu falei: "Senhor, meu Deus! Os anos que agora estão em curso são poucos e maus. Quem pode, neste seu tempo limitado, esperar que ocorra o que lhe é imprescindível?"

Capítulo 16

Indiferença dos Períodos

Então falou-me o Senhor: "Para o Altíssimo não conta o muito tempo, nem os poucos anos. De que serviu a Adão ter vivido 930 anos, após ter transgredido aquilo que lhe fora proibido? De nada lhe adiantaram os longos anos de vida; ao contrário, a contribuição dele foi mais para a morte, encurtando os anos de vida dos seus descendentes. Ou em que foi prejudicado Moisés pelo fato de ter apenas vivido 120 anos? Por ter sido obediente ao Criador, ele trouxe a Lei aos filhos de Jacó e acendeu uma luz para a geração de Israel".

Capítulo 17

Nova Reflexão

Eu disse: "Aquele que acendeu a luz produziu obras luminosas; mas poucos foram os que seguiram o seu exemplo. A maioria daqueles para os quais ela foi acesa mais buscaram as trevas de Adão, e não se alegraram com a luz do facho".

Capítulo 18

Ensinamento

Ele falou-me: "Foi por isso que naquele tempo ele (Moisés) estabeleceu o Pacto, dizendo: 'Eu apresento diante de vós a vida e a morte', e conclamou o céu e a terra como testemunhas. Pois ele sabia que o seu tempo era curto, enquanto que a terra e o céu persistem para sempre. Os homens, porém, pecaram e prevaricaram após a sua morte, embora soubessem que tinham uma Lei que os chamava à responsabilidade, como também a Luz, da qual nada ou ninguém podia ocultar-se, também tinham as Esferas, que dão testemunho, e finalmente tinham a mim. Tudo o que aí está encontra-se sob o meu controle. Tu porém não penses mais sobre isso! Não te deixes mais acabrunhar pelo que aconteceu!

"Pois agora é o final dos tempos, e é isso que deve ser meditado, seja na fadiga, seja na felicidade, seja na vergonha; não se pensa mais no começo. Pois, se o homem vive o seu primeiro tempo em felicidade, mas chega à velhice no opróbrio, ele se esquece de toda a felicidade que usufruiu. Mas, ao contrário, se um homem vive o seu primeiro tempo na vergonha, mas no tempo seguinte chega à felicidade, então já não mais se lembra da antiga vergonha.

"E escuta, mais ainda! Se alguém, ao longo desse tempo todo foi apenas feliz, desde o dia em que a morte foi imposta àqueles que no período caíram em pecado, mas no final caiu na desgraça, de nada valerá todo o tempo anterior.

Capítulo 19

Admoestações

"Por isso dias virão em que os tempos correrão mais velozes do que antigamente; em que as estações fluirão mais depressa do que pelo passado; em que os anos passarão mais ligeiros do que os de hoje. E esse o motivo pelo qual eu esmaguei Sião no intuito de, a seu tempo, poder revisitar o mundo, o mais depressa possível. Guarda agora em teu coração tudo quanto eu te ordeno! Sela isso nas câmaras do entendimento! Revelar-te-ei também a minha poderosa Justiça, bem como os meus desígnios, que são profundamente inescrutáveis.

"Vai, pois! E purifica-te durante sete dias! Não comas pão, não bebas água, nem fales com ninguém! Volta depois para este lugar! Então eu me desvelarei a ti e contigo falarei a verdade, e dar-te-ei uma incumbência, em vista do curso dos tempos. Eles virão agora, e já não tardam."

Capítulo 20

Dúvida de Baruch

Afastei-me daquele lugar e fui sentar-me numa caverna da torrente de Cedron; lá purifiquei-me; não comi pão, e apesar disso não senti fome; não bebi água, e apesar disso não senti sede. Lá permaneci até o sétimo dia, conforme Ele me ordenara. Depois disso, voltei ao lugar onde Ele havia falado comigo. Na hora do pôr-do-sol entrei em profunda meditação, comecei a falar diante do Altíssimo, dizendo:

"Escuta-me, ó Tu que criaste a terra, que pela Palavra assinalaste as posições no firmamento, fixando-as pelo espírito das alturas do céu; Tu, que no princípio do mundo chamaste à existência o que até então ainda não era, tudo Te obedece; Tu, que por um aceno ordenas ao vento, que vês como presente as coisas futuras; Tu, que com grande sabedoria conduzes as coortes dos Anjos que estão na tua presença, e diriges com rigor os inumeráveis corpos sagrados que criaste desde a eternidade, flamejantes e ardentes, que estão ao redor do teu trono; Tu, o único capaz de realizar de imediato a tua vontade, que banhas a terra com inumeráveis gotas de chuva, que és exclusivo no conhecimento do fim dos tempos, antes da sua chegada, volve teus ouvidos para a minha súplica!
    "Pois só Tu tens o poder de conservar todos os seres: os presentes, os passados, os futuros, os maus e os bons. Unicamente Tu és o Vivo, o imortal e inescrutável. Tu conheces o número dos filhos dos homens, e sabes também se, no seu tempo, muitos pecam e se outros, não poucos, vivem em virtude. Tu conheces também o lugar derradeiro que preparaste para os pecadores e o fim novíssimo daqueles que praticaram o bem. Pois que, se houvesse apenas esta vida que cada um possui aqui, nada haveria de mais amargo.

"De que serve a força que se converte em fraqueza; o alimento que sacia e amortece a fome; a beleza que se torna fealdade? A todo instante a natureza humana está em transformação, ou torna ao nada. Pois não somos mais hoje o que éramos no passado, e não permanecerá no futuro a forma que temos agora. Na realidade, se todas as coisas não tivessem um fim, não haveria para elas também um princípio.

"Permite-me conhecer tudo o que de Ti procede! Esclarece-me, é isso que eu Te suplico! Até quando persistirá o transitório? Quanto dura o tempo cheio de felicidade dos mortais? Até quando seguirão contaminando-se com muita maldade os que vão morrer? Ordena agora, em nome da tua piedade! Faze cumprirem-se todas as tuas ameaças, para que experimentem a tua força também aqueles que tomam a tua paciência por fraqueza! Dize-o àqueles que o não sabem! Tudo o que até agora aconteceu conosco e com a nossa Cidade ocorreu por obra da bondade do teu poder; pois Tu nos escolheste como povo predileto, por amor do teu Nome.

"Assim, retira a mortalidade dessa natureza mortal! Coíbe também, por isso, os Anjos da morte! Faze visível a tua majestade e conhecida a tua glória divina. Seja lacrado o mundo inferior, para que doravante não receba mais nenhum morto! Que as câmaras das almas devolvam todos aqueles que lá estão encerrados!

"Eles se tornaram numerosos, nesses anos que passaram, desde os dias de Abraão, Isaac e Jacó, todos eles dormindo no seio da terra, junto com os outros. Por amor deles Tu criaste a terra, segundo tuas próprias palavras. Revela depressa a tua majestade, e não tardes a tua promessa!"

Com esses dizeres, encerrei a minha oração; eu estava exausto.

Capítulo 21

Baruch é Admoestado

Então abriram-se os céus; e nesse momento foram-me restituídas as forças, e uma voz do alto fez-se ouvir; e ela falou-me: Baruch, Baruch! Por que estás tão intranqüilo? Se alguém caminha pela estrada mas não alcança o seu fim; ou se viaja pelo mar mas não chega ao porto, poderá ele estar em paz?

"Ou se um homem promete a alguém um presente mas não o entrega, não é isso uma usurpação? Ou quando um homem semeia um campo mas a seu tempo não colhe o fruto, não fica ele privado da sua safra? Ou quando alguém planta uma árvore mas esta não cresce no tempo devido, pode o plantador dela esperar frutos? Ou se uma mulher grávida dá à luz fora do tempo, não priva ela da vida o fruto do seu ventre? Ou, ainda, se um homem edifica uma casa e não a cobre com um telhado, não terminando assim a construção, pode isso ser chamado uma casa? Responde-me isso, antes de tudo!"

Capítulo 22

A Proximidade da Salvação

Eu respondi: "Não, Senhor meu Deus!" Então ele falou-me:

"Por que te preocupas, pois, com aquilo que não sabes? Por que te angustias com o que não conheces? Se tu tens conhecimento dos homens de hoje, e dos que já se foram, eu conheço os que hão de vir. Quando Adão pecou, atraindo a morte sobre os seus descendentes, foi então contada a grande massa daqueles que haveriam de nascer; e foi preparado um lugar para aquela multidão, tanto para morada dos vivos como para a guarda dos mortos. Enquanto aquele número predeterminado não for preenchido, as criaturas que morreram não revi verão. O meu Espírito é o de Criador da vida; e o mundo inferior continuará a receber os mortos.

"Porém, mais coisas ainda ser-te-á permitido ouvir sobre o que irá acontecer após esses tempos. Em verdade, a Salvação que vos preparei está próxima, e já não mais tão distante como anteriormente.

Capítulo 23

A Paciência de Deus

"Pois saibas, dias virão em que serão abertos os livros nos quais estão anotados os pecados dos malfeitores, bem como descerradas as câmaras onde está depositada a retidão de todos aqueles que no mundo criado se comportaram com justiça. Nesse tempo verificar-se-á, e tu verás — e contigo muitos — a paciência do Altíssimo, que se prolonga de geração em geração; grande é a sua magnanimidade para com todos os nascidos sobre a terra, quer cometam pecados, quer pratiquem boas obras."

Eu falei: "Vê, Senhor! Ninguém conhece a proporção das coisas futuras e das coisas passadas. Mas bem sei o que aconteceu a nós. Mas o que acontecerá aos nossos inimigos, isso eu não sei; também não sei quando levantarás contra eles a tua mão".

Capítulo 24

O Julgamento do Mundo

Ele falou: "Também tu serás mantido até aquele dia, como testemunha da ação do Altíssimo sobre os habitantes da terra. E este será o sinal: os habitantes da terra, acometidos de espanto terrível, cairão em muitas privações e em profundíssimos sofrimentos. E quando disserem entre si, na sua necessidade extrema: `Que o Altíssimo zele constantemente pela terra', então o novo tempo se inaugurará".

Capítulo 25

Duração das Tribulações

Eu falei: "Permanecerá então por longo tempo aquela calamidade? E durará muitos anos aquele tempo de privações?"

Capítulo 26

Doze Períodos de Calamidades

Ele falou-me: "De doze partes se compõe aquele tempo; cada uma delas está reservada para o que lhe foi previsto. O primeiro período marcará o início das inquietações; no segundo acontecerá a matança dos poderosos; no terceiro, a morte de muitos; no quarto, o desembainhar das espadas; no quinto, fome e dilúvios de chuva; no sexto, terremotos e horror; no sétimo, (...) no oitavo, aparições e encontros com espíritos; no nono, queda de fogo do alto; no décimo, muitos saques e opressões; no undécimo, crimes e devassidão; no duodécimo, mistura e superposição de todos os precedentes. "No princípio, esses períodos serão separados, depois eles se misturarão e se completarão entre si [...] Pois uns não se exaurem de uma só vez, e terão como acrescentar aos outros; outros, completam-se a si mesmos e complementam ainda os demais, de sorte que os habitantes da terra não perceberão de que se trata do fim dos tempos.

Capítulo 27

Nova Reflexão

"Mas aquele que perceber estará de sobreaviso. No que se refere porém à medida e números do tempo, haverá dois períodos, que são semanas de sete semanas cada uma."

Eu falei: "Será bom que um homem experimente e presencie isso; mas melhor seria que não alcançasse esse tempo, para não sucumbir ao horror. Agora pergunto ainda o seguinte: porventura aquele que vai sobreviver terá desprezo pelo que é condenado e pe...

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